Na manhã do dia 15 nossa equipe se dividiu na produção para atender a demanda de colheita e de atividade formativa. Nesta manhã recebemos a visita de um grupo de 33 crianças, de 08 a 16 anos, e mães da escola Alberto Pasqualini da Restinga Nova, acompanhados pela professora Perla que foram assistir ao filme, conhecer a estrutura do carijo e ainda aproveitaram uma atividade interativa de dança tradicionalistas, oferecida pelo grupo juvenil da Invernada do CTG.
A manhã foi muito mais produtiva do que imaginávamos, pois também recebemos pela manhã, a visita de Eduardo (Verá), guarani mbya de Rio Grande, que se integrou à equipe e realizou uma roda de conversa com as crianças e com os pais sobre a vida, costumes e tradições guaranis.
Após o almoço coletivo, sentamos em roda ao lado do carijo e abrimos uma conversa com Eduardo. As crianças fizeram diversas perguntas ao Eduardo, não apenas sobre erva mate, mas estiveram curiosas sobre todo universo indígena, desde alimentação, costumes diários e familiares, sobre a escola guarani, sobre a vida dentro da aldeia, sobre a convivência o mundo fora da aldeia, quais animais conviviam, como era a religião/espiritualidade para eles.
Enquanto acontecia atividade com a escola parte da equipe esteve desde 6h trabalhando na colheita da erva mate. A erva mate Rei do Sul cedeu alguns pés, próximo à região de Triunfo.
Têmis, uma das integrantes do Coletivo Catarse, que também participou da atividade nas escolas deu seu depoimento sobre a atividade com as escolas:
"Todo o contato com a origem é transformador e isso não seria diferente em relação à erva mate. Lembro que depois do meu primeiro carijo, há mais de 10 anos, o chimarrão teve um sabor especial e nunca esqueci o gosto da erva mate que eu fiz. Hoje, levando essa história para as escolas, conseguimos ter noção da importância que um projeto desses tem. Pode ser surreal ver nos rostos negros e indígenas de estudantes o espanto quando um guarani aparece na tela: "eu nunca vi um índio na minha vida!" ou, ainda, risadas ao ver um quilombola em close up na tela. Hoje, desconhecemos nossa origem, desconhecemos nossa sua identidade cultural. Por isso, existem tantos jovens de cabeça baixa, achando que ter vestígios de sangue negro e índio é uma vergonha, é ser menos.
A partir do filme Carijo e da produção artesanal da erva mate, tivemos oportunidade de falar que a erva vem de uma árvore, que um pilão serve para triturar folhas, que essa erva é uma planta de poder; E, principalmente, tivemos a oportunidade de dizer às crianças que indígenas ainda existem e que não são personagens mitológicos, que quilombo é um território de resistência negra e que esses povos originários não devem ser motivo de chacota mas merecedores do nosso profundo respeito e agradecimento.
É muito mais do que uma bebida, é o elo entre o passado, o presente e o futuro, é a possibilidade de enxergar o nosso potencial enquanto seres humanos mais completos ao entender que está na mistura das diferenças culturais a força de um povo."
Nenhum comentário:
Postar um comentário